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Do Tradicional ao Gourmet, um retrocesso positivo

Do Tradicional ao Gourmet, um retrocesso positivo

Cada vez mais acredito nessa tal idéia de que a Terra é realmente redonda e gira ao seu próprio eixo, e que sua rotação cíclica é interferente sobre tudo e todos. Assim como os dias vêm e vão, os processos criados pelos humanos, em todas as áreas agem da mesma forma.

No ciclo do café, desde sua descoberta e aceitação aos paladares mundiais como bebida, saudável e saborosa, tínhamos as mini-torrefações que espalhadas no Brasil e no mundo sutilmente transformavam o ouro verde, enchendo cada dia novas xícaras. Com o aumento da apreciação, passaram de mini a grandes indústrias e finalmente capazes de saciar o desejo já vislumbrado em cada parte do mundo.

O Brasil, como maior produtor e exportador mundial dos grãos ‘in natura’, abastecia – e ainda abastece, os principais mercados consumidores, em especial a Europa, onde temos a Noruega, maior consumidora per capita do mundo e, Alemanha e Itália, lideres em beneficiamento e exportação da bebida. E por muito tempo durava a idéia, para muitos, de que os melhores cafés do mundo eram os europeus, em especial os italianos. Então fica o paradoxo: o Brasil, maior produtor de café verde não tinha os melhores cafés torrados. De fato, na Europa as mini-torrefações persistiram desde os últimos séculos, com processos muito artesanais, especializadas, e sobretudo, importando o melhor café do mundo, o nosso.

Após décadas, o Brasil percebeu o diferencial e, principalmente no início desta, começaram a surgir novamente as mini-torrefações, as mesmas que existiam há décadas e que se mantêm em grande parte da Europa. Assim, de um ciclo que surgiu artesanalmente e logo se tornou indústria, retoma seus valores na pequena escala, no detalhe e no capricho que somente os olhos e as mãos humanas podem fazer.  Surgia então o nosso conhecido “Café Gourmet”.

Muitas vezes me perguntam o porquê de um café gourmet ser tão mais caro que um tradicional, diferença esta que pode chegar facilmente a dez vezes seu valor. É simples entendermos quando percebemos que tudo o que é feito artesanalmente – de forma personalizada, custa mais. As fazendas brasileiras que produzem cafés gourmet investem muito em processos de plantio, colheita e beneficiamento, o que reflete no valor das sacas e consequentemente no pacote final.

O resultado deste retrocesso positivo, da retomada das origens nos processos de torra de café, está em que já não se pode mais dizer que o melhor café do país é exportado, mas ao contrário, muitos mini-torrefadores brasileiros adquirem os lotes de cafés mais cobiçados no mundo e, diferente da antiga lenda, hoje o Brasil está sim entre os melhores torrefadores de cafés especiais do mundo com marcas que trazem em seu nome, em seu conceito e em seu sabor, o glamour europeu e a qualidade e bom gosto brasileiro.

Por: Carlos Eduardo da Costa

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